04 fev 2019

Momento Safesui: implicações práticas e considerações finais

Novos surtos de quadros subclínicos e clínicos vêm sendo relatados, apesar de a vacinação ser amplamente utilizada, em praticamente 100% das granjas durante os últimos 10 anos. Embora a relação desses casos com o surgimento dos novos genótipos, principalmente o PCV2b e o PCV2d, ainda não esteja totalmente elucidada, supõe-se que estes sejam decorrentes de uma pressão de seleção devido ao uso constante de vacinas, fazendo com que esse genótipo possa “escapar” da imunidade estimulada pelas vacinas de PCV2a. Isto pode ser comprovado por um estudo realizado por Kekarainen et al (2014), o qual demonstra claramente uma maior variação genética em granjas vacinadas quando comparadas a granjas não vacinadas para PCV2, principalmente na região de ORF2, responsável pela codificação de proteínas do capsídeo viral, e diretamente relacionada à produção da resposta imune (Gráfico 1). Além disso, como já descrito no capítulo 2, autores sugerem que a evolução e replicação de novos genótipos de PCV2 estejam relacionadas à coinfecção por diferentes genótipos em um mesmo animal, geralmente dentro das subpopulações de leitões em que houve alguma falha na resposta imune, seja ela por falha vacinal e/ou vacinação, havendo replicação e recombinação entre os mesmos ou diferentes genótipos, e com isso acelerando o processo de evolução do vírus.

Como já comentado também no texto Momento Safesui: variações genéticas e antigênicas dos genótipos circulantes, diversos autores comprovaram que o PCV2b é mais patogênico que o PCV2a, sendo o principal causador de lesões. Essa teoria é sustentada por diversos estudos, dentre eles o de Grau-Roma et al. (2008), em que foram analisados diversos animais, com sinais clínicos e lesões mais severas e verificaram que estes leitões continham sequências pertencentes ao PCV2b, e os animais sadios continham sequências pertencentes ao PCV2a.

Além disso, um estudo realizado recentemente analisou plantéis vacinados, sendo observada uma maior carga viral de PCV2b do que de PCV2a nesses animais, sendo de 65% e 13% respectivamente nos animais com sinais clínicos de PCVAD. Outra análise realizada também em plantéis vacinados, constatou que o PCV2b é realmente mais prevalente que o PCV2a, e observou, ainda, que nos animais vacinados a presença de PCV2b é a mais comum. Sendo assim, a introdução da vacinação para esse genótipo é um fator a se considerar (Lyoo, et al., 2010; Darwich & Mateu, 2011; Beach et al., 2011; Shen, Halbur & Opriessnig 2012; Madson, 2018).

Os fatores de risco relacionados à evolução/mutação gênica do PCV2 estão divididos em dois tipos de falhas:

  • Falha de vacinação: relacionada às falhas de manejo, como por exemplo, aplicação de meia dose, aplicação somente em parte do lote, aplicação em momento não adequado e local de aplicação inadequado.
  • Falha vacinal: relacionada às falhas da vacina propriamente dita, como por exemplo, vacinação com genótipos diferentes dos atuais circulantes, tipo de adjuvante e massa antigênica inadequada. Estudos demonstram que  25% dos leitões que receberam vacina PCV2a, desafiados com PCV2b apresentam falha vacinal (Karuppannan & Opriessnig, 2017). O que corrobora com os resultados de Lefebvre et al. (2008), que verificaram in vitro que de 16 anticorpos monoclonais para PCV2a, quatro (4) não tiveram resposta alguma quando desafiados com PCV2b, o que corresponde a 25% de falha de ligação antígeno (Ag) com o anticorpo (Ac), impedindo a resposta imune neste percentual.

Todos esses fatores, sendo relativos à vacina ou ao manejo, podem contribuir com a manutenção de uma alta carga viral circulante na granja, e, aqueles, animais que permaneceram sem uma boa proteção, além de criar subpopulações com baixa ou nenhuma resposta imune, passam a ser fonte de replicação, de uma possível recombinação e de transmissão de diferentes genotipos de PCV2, uma vez que planteis onde há algum tipo de falha de manejo de vacinação e/ou vacinal este vírus tem a tendência de apresentar uma maior taxa de mutação.

Considerações finais

Embora seja notável o aumento de quadros subclínicos e clínicos de circovirose a campo, ainda há um efeito positivo dos protocolos de vacinação atualmente utilizados com vacinas comerciais, mesmo que todas sejam baseadas no genótipo PCV2a, entretanto já sendo notada algumas falhas comprovadas tanto in vitro quanto in vivo. Portanto, uma dúvida que permanece ainda não elucidada é, até quando este efeito será mantido?

Referências literárias

GRAU-ROMA, L., CRISCI, E., SIBILA, M., LOPEZ-SORIA, S., NOFRARIAS, M., CORTEY, M., FRAILE, L., OLVERA, A., SEGALÉS, J. A proposal on porcine circovirus type 2 (PCV2) genotype definition and their relation with postweaning multisystemic wasting syndrome (PMWS) occurrence. Veterinary Microbiology 128, 23–35, 2008.

Karuppannan AK. and Opriessnig T. Porcine Circovirus Type 2 (PCV2) Vaccines in the Context of Current Molecular Epidemiology. Viruses 2017, 9, 99.

Kekarainen, T, Gonzalez A, Liorens A, Segalés J. Genetic variability of porcine circovirus 2 in vaccinating and non-vaccinating comercial farms. 2014. Journal of General Virology 95, 1734-1742.  

Lefebvre, D. J., Costers S, Doorsselaere JV, Misinzo G Delputte PL, Nauwynck HJ. Antigenic differences among porcine circovirus type 2 strains, as demonstrated by the use of monoclonal antibodies. 2008. Journal of General Virology, 89, 177–187

Madson, 2018 – Pig Health Today - PCV2 Future considerations for an evolving vírus. https://pighealthtoday.com/pcv2-future-considerations-for-an-evolving-virus/

 

Veja também

Momento Safesui: introdução e características da Circovirose suína

Momento Safesui: características do Circovírus suíno e a evolução dos diferentes genótipos de PCV2 circulantes

Momento Safesui: homologia/identidade dos diferentes genótipos circulantes

 

Andrea Panzardi

Especialista técnica em Biológicos na Ourofino Saúde Animal

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