17 jan 2021

Qual a chave para um bom diagnóstico na suinocultura?

Independente da suinocultura estar cada vez mais tecnificada, cumprindo com os principais requisitos para uma boa biosseguridade com constante melhoramentos genético e nutricional, além dos manejos rotineiros, os desafios sanitários estão presentes e constantes, em maior ou menor proporção. Por este motivo, as pessoas que lidam diretamente nas granjas precisam ter visão holística e olho clínico no intuito de notarem o sinal mais sutil de que algo não esteja indo bem para que ações rápidas sejam implementadas com o objetivo de minimizar sinais clínicos mais severos, reduzindo a velocidade de disseminação da doença que poderia levar a prejuízos ainda maiores.

Em decorrência disso, uma boa seleção de animais para amostragem é primordial e o principal passo a ser realizado, já que uma boa amostra selecionada e colhida faz com que o resultado seja mais assertivo e com maior acurácia de resolução. Entretanto, por mais que esta etapa pareça ser fácil, muitos acabam se equivocando em função de não seguir alguns passos iniciais importantes para que consiga direcionar o tipo de material de acordo com a suspeita em questão. Com isso, acabamselecionando animais com sinais clínicos associados a quadros mais crônicos, leitões já medicados, contribuindo para tratamentos não adequados.

Definimos alguns passos fundamentais para evitar possíveis erros:

1º - O veterinário ou técnico responsável pela granja precisa ter conhecimento dos resultados zootécnicos, quais os principais desafios que a granja possui para analisar qual fase de produção durante a ação técnica ele deverá dar mais atenção, já que nem sempre o local de desafio possa ser a origem dele. Essa investigação deve incluir sistema de produção, protocolo de vacinação, entre outros dados que permitam que essas informações sejam associadas ao problema relatado na granja, como idade, sinais clínicos, taxa de morbidade/mortalidade e o manejo sanitário da granja para elaborar a suspeita clínica.

2º - Verificar as diferentes fases de produção de uma maneira mais macro, para observar todos os pontos na tentativa de identificar qual o melhor momento para a realização desta coleta. Inicialmente observa-se a granja e o galpão para realizar uma observação mais macro de população. Depois, inicia-se uma observação mais convergente/focada e detalhada das baias. À medida em que essa análise é realizada, parte-se para uma observação mais do indivíduo (deixando a população um pouco de lado), trazendo uma visão de qual ou quais as principais suspeitas para então determinar a amostragem a ser definida para o diagnóstico.

A seleção dos animais requer cuidados e observação minuciosa de quais animais deverão compor esta amostragem, seja para uma simples coleta de fezes, sangue, suabe, fluído oral ou realização de necropsia. Esta fase de observação se trata de um dos momentos mais importantes, e que deve ser dispendido o maior tempo quanto possível, pois uma seleção bem feita é a garantia de uma amostragem de qualidade e, consequentemente, resultados mais assertivos.

3º - Coleta propriamente dita do material. É fundamental que seja realizada de maneira correta para garantir um bom resultado. Para isso, pode-se pensar em alguns aspectos como o de manipular o mínimo possível amostras para bacteriologia, antibiograma e histopatologia para evitar, respectivamente, a contaminação por agentes comensais/oportunistas e gerar artefatos,, mascarando resultados corretos. Já quando pensamos em coletas para análises moleculares é muito importante sabermos a técnica, bem como o tipo de material e armazenamento para que seja possível coletar a melhor amostra, com o tipo correto de material, para evitar a degradação do material genético.

Alguns dos equívocos mais comuns na coleta de material para diagnóstico são representados pela coleta em animais que estavam sendo ou foram medicados há pouco tempo via ração e/ou água ou injetável (há menos de 7 a 10 dias) com o objetivo de realizar isolamento bacteriano, o que pode mascarar os resultados. Outro erro muito comum é o de selecionar animais refugos para coleta de amostras variadas e/ou necropsia, em que se isola somente o agente secundário e/ou agentes oportunistas, sem que haja a possibilidade de identificação do agente primário causador do quadro clínico e na histopatologia a observação de lesões mascaradas por cicatrizes ou regeneração, ao invés da lesão inicial.

O animal selecionado corretamente deve apresentar bom estado físico, ou seja, um leitão bonito, mas com a presença de sinais clínicos típicos de fase aguda, com no máximo uma semana de sinal clínico (de preferência animais com quadro febril), pois indica viremia e/ou bacteremia, facilitando a identificação do agente. Não deve ter sido submetido a tratamento com antimicrobianos em se pensando em análise bacteriológica e/ou antibiograma, pois pode mascarar o agente primário, e em hipótese alguma ser um animal refugo, com características de doença crônica, garantindo assim que os resultados sejam os mais fidedignos quanto possível.

Levando em consideração todos esses aspectos, certamente o produtor, o patologista e o veterinário responsável terão maior chance de sucesso no diagnóstico e no tratamento evitando perdas muito expressivas.

Andrea Panzardi

Departamento Técnico Ourofino Saúde Animal

Tags

Newsletter

Cadastre seu e-mail e receba nossa newsletter.


Deixe o seu comentário