15 out 2019

Manejo de maternidade em bezerras de leite

Ao falarmos sobre a maternidade em animais de leite, focamos nossos esforços na criação de bezerras que serão o futuro de nossa propriedade, ou seja, nossas futuras vacas leiteiras.

Porém, antes de falarmos especificamente das bezerras, devemos voltar nossa atenção para as vacas prenhes ou novilhas. As vacas prenhes deverão ser secas por volta de 60 dias pré-parto para que a glândula mamária possa descansar e sofrer os processos de involução e produção de colostro. As novilhas não necessitam deste manejo, uma vez que ainda não produzem leite. Aos 30 dias pré-parto as vacas e novilhas deverão ser manejadas para um piquete maternidade, de preferência próximas ao curral, mas que seja tranquilo. É importante que se tenha uma rotina diária de observação para intervir no caso de distocias ou outras emergências.

Aproveitam-se estes manejos para realizar os protocolos de controle de parasitas e vacinações pré-parto. As vacinações são importantes pois protegerão os recém-nascidos contra doenças como diarreias e clostridioses.

Após o parto, a colostragem deve ocorrem em até 6 horas, período este em que ocorre a maior absorção das imunoglobulinas (células de defesa) do colostro pelo recém-nascido. O bovino naturalmente nasce com baixíssimos níveis de imunoglobulinas, sendo dependentes do colostro para adquirir proteção durante os primeiros meses de vida. Nos casos em que as bezerras sejam separadas da mãe logo após o parto, o colostro deverá ser ordenhado e fornecido em mamadeiras ou baldes muito bem limpos.

Em casos em que haja o armazenamento de colostro congelado, chamado banco de colostro, alguns pontos devem ser observados: higiene dos materiais, local de armazenamento, temperatura do freezer (entre -15ºC e -20ºC), qualidade do colostro a ser congelado (somente deverá ser congelado o colostro de boa qualidade), e, principalmente, a temperatura em que este colostro será descongelado. O indicado é que seja descongelado em banho maria e nunca fervido, pois a fervura destruirá as imunoglobulinas do colostro.

O umbigo deve ser queimado utilizando produtos específicos ou iodo durante três dias, de preferência. Este manejo é facilitado uma vez que os bezerros são manejados diariamente. No primeiro dia também são recomendadas a identificação e a aplicação de 1ml de Lactofur e de 1ml de Ivermectina OF. A aplicação destes produtos tem como objetivo a prevenção de infecções de umbigo e também contra bicheiras que possam se instalar.

A cura de umbigo mal feita pode resultar em uma onfalite, ou seja, em uma infecção de umbigo. Estas infecções podem representar um significativo retardo no crescimento e até podem levar o animal à morte. No caso de animais de leite, o retardo no crescimento significa mais tempo necessário para que o animal atinja a puberdade e emprenhe e, consequentemente, entre na lactação. Para o tratamento é recomendado o uso do antibiótico Lactofur e do anti-inflamatório Maxicam 2%.

O sistema produtivo de leite tende a ser mais intensificado, aumentando o número de unidades animais por hectare, o que aumenta a incidência de doenças nesse período, principalmente pneumonias e diarreias.

As pneumonias são doenças que preocupam devido à sua alta morbidade e significativa mortalidade. Seus principais sinais clínicos são o aumento de temperatura, apatia, febre, ruídos respiratórios, dificuldade respiratória , tosse e secreções oculares e nasais. O tratamento deve ser rápido e eficaz pois a doença causa perdas econômicas conforme evolui. O Resolutor é um produto à base de marbofloxacina e suas principais características são a ótima penetração em órgãos internos e rápida ação, atingindo seu pico em apenas quatro horas após a aplicação. Também é indicado o uso simultaneamente do anti-inflamatório Maxicam 2%.

Já as diarreias são doenças multifatoriais envolvendo bactérias, vírus ou protozoários. Podemos ter uma ideia do agente envolvido pela coloração e pelo período de vida das bezerras. As diarreias causadas por agentes virais são relacionadas ao rotavírus e ao coronavirus que possuem a característica de serem mais agressivos, lesionando o epitélio intestinal e causando a chamada síndrome da má absorção, em que o animal deixa de aproveitar todo o alimento que ingere.

As diarreias bacterianas podem ter coloração branca ou amarelada e podem ser causadas pelas bactérias E. coli e Salmonella sp.

O tratamento deve ser realizado utilizando-se antibióticos, como o Trissulfin, associação de sulfametoxazol e trimetoprim, e o Corta Curso, associação do antibiótico doxiciclina e do redutor de motilidade benzetimide, que evita que os animais percam líquidos e entrem em um quadro de desidratação que é o que leva os bezerros ao óbito. Também devemos tratar a febre e os possíveis quadros de endotoxemias com Desflan.

As diarreias causadas por protozoários são causadas pelos coccídeos do gênero Eimeria sp que parasitam as células dos intestinos dos animais e, em seu ciclo, lesionam as paredes e causam perda de peso ou até a presença de sangue nas fezes. Por ser tratar de um protozoário, os antibióticos comumente utilizados no tratamento da diarreia não possuem efeito, restando para o toltrazuril presente no Isocox Ruminantes servir como tratamento e também como prevenção para fazendas que possuem este desafio. É bom lembrar que a prevalência deste protozoário é altíssima em fazendas no Brasil e que apenas 5% dos casos demonstram o sinal clínico característico (diarreia com sangue vivo ou negra). Os outros 95% possuem a doença em curso subclínico, ou seja, os animais sofrem os prejuízos da doença mas não apresentam a diarreia.

Em ambientes onde há presença de carrapatos e moscas, comumente encontramos os animais com Tristeza Parasitária Bovina. A presença pode chegar 13% no rebanho e possui mortalidade estimada em 35%. A tristeza, tristezinha ou mal da boca branca é caracterizada por fraqueza, anemia, apatia, febre e pelos arrepiados. O diagnóstico geralmente é dado pelo quadro clínico e pela avaliação de mucosas (neste caso estarão mais claras que o costume ou brancas). O tratamento deve ser realizado com oxitetraciclina Ourotetra Plus LA e diaceturato de diminazeno Pirofort. Em fazendas onde o problema de tristeza é endêmico, é recomendada a utilização do dipropionato de imidocarb, o Enfrent, 48 horas antes do contato da bezerra com os carrapatos, por exemplo, a saída das bezerras do bezerreiro individual para o piquete coletivo.

A sanidade das bezerras parece ser algo muito complicado, porém ao controlarmos estes fatores com certeza teremos bezerras mais saudáveis que se tornarão vacas mais precoces e produtivas, garantindo a sustentabilidade da atividade leiteira.

Lucas Rizzo Marques (analista técnico saúde animal) e Ingo Aron Sousa Mello (gerente técnico saúde animal)

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