Pneumonia Enzoótica dos Suínos: Impacto na Saúde e Medidas Estratégicas na Prevenção

O Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyopneumoniae) compreende um importante patógeno primário associado ao complexo de doenças respiratórias dos suínos. Possui distribuição mundial e um desafio recorrente nas granjas produtoras de suínos. As lesões respiratórias associadas à infecção pelo agente são as mais comumente detectadas em frigoríficos de suínos, com uma prevalência mundial que possui variação de 19% a 83,3% (FABLET et al., 2012; MORES et al., 2015; FERRAZ et al., 2020).

O M. hyopneumoniae se dissemina facilmente por meio do contato direto “focinho-focinho” a partir de suínos infectados, fômites e por aerossóis a uma distância de até 3 km. Após a infecção, a bactéria se adere aos cílios das células epiteliais do trato respiratório induzindo aglomeração e ocasionalmente a morte celular. Isso prejudica o funcionamento do sistema muco-ciliar e predispõe o desenvolvimento de patologias secundárias associadas a Circovírus suíno tipo 2, PRRS, Pasteurella multocida, Actinobacillus pleuropneumoniae, Glaesserella parasuis e Streptococcus suis (PIETERS & MAES, 2019).

Destaca-se ainda, o impacto na modulação da resposta inflamatória e o efeito negativo do M. hyopneumoniae frente ao sistema imunológico em nível pulmonar através do estímulo da produção de citocinas pró-inflamatórias que aumentam a inflamação nos pulmões e estimulam a hiperplasia do tecido linfoide associado aos brônquios (BALT) (MEYNS et al., 2007; PIETERS & MAES, 2019).

Os principais sinais clínicos respiratórios clássicos incluem tosse crônica e não produtiva associada à perda de desempenho (piora no ganho de peso diário e conversão alimentar) (Fig. 1). As infecções bacterianas oportunistas são comuns e quando presentes geralmente resultam em episódios de tosse produtiva pela presença de conteúdo mucopurulento nos brônquios e bronquíolos. As lesões macroscópicas observadas, caracterizam-se por consolidação pulmonar em diferentes intensidades dependendo do curso da infecção. Os lobos pulmonares crânio-ventrais tendem a ser os mais comumente afetados, entretanto outras regiões dos pulmões podem ser acometidas (Fig. 2). As lesões microscópicas estão associadas à broncopneumonia catarral caracterizada por grande infiltração de neutrófilos, linfócitos e macrófagos no lúmen e hiperplasia de BALTs (Fig. 3).

Infecções por M. hyopneumoniae não produzem lesões macroscópicas patognomônicas, ou seja, específicas desse patógeno. O diagnóstico conclusivo desta infecção é baseado na interpretação dos achados clínicos, anatomopatológicos e laboratoriais, entre os quais destaca-se o método PCR amplamente utilizado para detecção de M. hyopneumoniae, tanto em investigação de surtos quanto para monitorias sanitárias.

O controle das infecções por M. hyopneumoniae em rebanhos de suínos pode ser realizado otimizando as práticas de manejo, alojamento e biosseguridade (Marco et al. 2020). O uso de antimicrobianos pode se mostrar efetivo em determinadas circunstâncias, mas o efeito é paliativo devido à possibilidade do surgimento de bactérias resistentes quando utilizado de forma inadequada.  Dessa forma, um programa de imunização contra M. hyopneumoniae representa atualmente a ferramenta estratégica mais impactante para controlar as infecções.

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A adoção de um programa de imunização de marrãs em período de aclimatação juntamente com as fêmeas entre 70 e 90 dias de período gestacional, consiste em uma prática importante na redução da pressão de infecção por M. hyopneumoniae nos planteis positivos. O objetivo desta prática de imunização de fêmeas no período final da gestação está voltado para transferência de imunidade passiva a partir da ingestão do colostro pelas leitegadas (imunidade humoral e imunidade mediada por células) e uma menor positividade de leitões no período de desmame em contrapartida à redução na gravidade das lesões por M. hyopneumoniae no frigorífico (ARSENAKIS et al., 2019; BIEBAUT et al. 2021).

ARSENAKIS et al. Effects of prefarrowing sow vaccination against Mycoplasma hyopneumoniae on offspring and lung lesions.Veterinary Record, 184(7), 222, 2019.BIEBAUT et al. Transfer of Mycoplasma hyopneumoniae‑specific cell mediated immunity to neonatal piglets.Vet Res. 52:96, 2021.FABLET et al. Bacterial pathogens associated with lung lesions in slaughter pigs from 125 herds.  Research in Veterinary Science, v. 93, p. 627-630, 2012.FERRAZ et al. Lung consolidation caused by Mycoplasma hyopneumoniae has a negative effect on productive performance and economic revenue in finishing pigs. Preventive Veterinary Medicine, 182, 2020.MARCO E., YESKE P., PIETERS M. General control measures against Mycoplasma hyopneumoniae infections. In: Book Mycoplasmas in Swine. Chapter 9. Editors: Dominiek Maes, Marina Sibila, Maria Pieters. ISBN 978-94-6379-796-2, Acco  Publishers, Leuven Belgium, 163-180, 2020.MEYNS et al. Interactions of highly and low virulent Mycoplasma hyopneumoniae isolates with the respiratory tract of pigs. Veterinary Microbiology, v.120, p.87-95, 2007.MORES et al., Aspectos patológicos e microbiológicos das doenças respiratórias em suínos de terminação no Brasil. Pesq. Vet. Bras. 35(8):725-733, 2015.PIETERS & MAES. Mycoplasmosis. In: Diseases of Swine. Zimmerman, J.J.; Karriker, L.A.; Ramirez, A.; Schwartz, K.J.; Stevenson, G.W. & Zhang, J. (Eds). Iowa: Wiley Blackwell. 11th ed. p.863-883, 2019.