Artigos - Os impactos da doença de Glässer

24 out 2021

Os impactos da doença de Glässer

Causadora da Doença de Glässer (DG), a Glaesserella (Haemophilus) parasuis (GPS) é uma bactéria Gram negativa, pertencente à família Pasteurellaceae, que possui quinze sorovares (1 a 15) identificados até o momento. Os sorovares (SV) mais prevalentes no Brasil são: SV4 (26,6%), SV5 (15%), SV1 (13.1%), SV14 (12.6%), SV12 (8.5%), SV15 (4.8%), SV2 (1.1%), SV13 (0.7%), além de um número expressivo de sorovares não tipificáveis (NT – 17,6%) classificados molecularmente em nove (9) perfis distintos com capacidade de gerar a DG, com isso ​​indicando um amplo grau de diversidade para esse agente etiológico. Apesar de não ser determinado como virulento o SV7 foi identificado em 29 casos clínicos de campo, portanto, devendo ser considerado como virulento. Além disso, existem relatos de que o SV4 que é considerado o mais prevalente no BR, pode causar quadros de espirros mais acentuados, podendo ser confundidos com quadros de influenza e/ou Bordetella brochiseptica.

É um dos primeiros microrganismos a colonizar o aparelho respiratório superior dos leitões ainda na primeira semana de vida, sendo a matriz a principal fonte de infecção. A imunidade natural é fundamental para evitar que a bactéria cause a doença, que, normalmente, ocorre devido a situações de estresse, tais como mistura de lotes com padrão sanitário distintos, coinfecções com agentes imunossupressores primários, transporte, desmama e condições ambientais e de manejo desfavoráveis e uso de vacinas com baixo potencial de proteção cruzada.

Atualmente a campo, tem se observado muito quadros precoces de GPS, já na primeira semana de creche, com leitões já apresentando, principalmente aderências pulmonares, bem como pericardites (Figura 1).

Figura 1. Imagem da cavidade torácica de leitões de média de 30 dias de vida com presença de pericardite (a) e pleurisia (b) oriundo de infecção por Glasserella parasuis Sorovar não tipificável.

A enfermidade acomete principalmente leitões entre duas semanas e quatro meses de idade, porém, é mais frequente entre 5-8 semanas, período em que geralmente é realizada a desmama. Este agente quando presente na corrente sanguínea leva à depleção de Linfócitos T o que propicia a evasão do sistema imune. A sintomatologia pode ser caracterizada por polisserosite, poliartrite, pericardite, septicemia e meningite fibrinosa, sendo responsável por grandes perdas na suinocultura, devido à mortalidade elevada em leitões, alto número de refugos e depreciação de carcaças no abatedouro.

Os fármacos indicados para atenuar os sinais clínicos são à base de penicilina e amoxicilina, mas, em função da resistência a essas drogas nos últimos anos, o tratamento com cefalosporinas tem sido preconizado. A antibioticoterapia ameniza o agravamento do quadro e mortalidade, entretanto, a profilaxia é a melhor medida para o controle do agente.

A identificação do SV é um dos critérios essenciais nos programas imunoprofiláticos. Isto porque pelo fato de ser um agente comensal no trato respiratório superior dos suínos, e ter uma gama grande de SV, aqueles isolados em sítios respiratórios e sistêmicos, somente o isolamento de locais sistêmicos podem garantir que o agente isolado esteja envolvido no processo infeccioso. O melhor método de coleta de material para análise é fazer o uso de suabe para coletar exsudato do pericárdio, pleura, peritônio, articulações e líquido cérebro-espinhal, podendo utilizar sangue presente no coração. Importante enviar pulmão íntegro com coração e saco pericárdico íntegro para uma maior chance de isolamento do agente (Figura 1). Fundamental no momento da coleta evitar contaminação das amostras bem como garantir que as amostras cheguem ao laboratório de 24h a 36h no máximo 48h para que se tenha sucesso no procedimento de isolamento bacteriano.

Fluxograma de coleta de material e análises indicadas para diagnóstico sugestivo de Glasserella parasuis

Figura 1. Fluxograma de coleta de material e análises indicadas para diagnóstico sugestivo de Glasserella parasuis.

Além disso, é importante considerar que mais de um SV pode estar presente no rebanho e/ou no animal acometido, sendo muito importante a determinação correta do SV envolvido, uma vez que a proteção cruzada entre diferentes sorovares não ocorre. Há ainda um percentual significativo de isolados não sorotipificáveis, mas que podem estar causando o quadro clínico. Portanto, é fundamental que seja identificado o SV da granja em questão para que de fato a vacina esteja de fato cumprindo seu papel, de proteção.

A redução dos fatores estressantes, a alocação dos animais em instalações confortáveis e que respeitem o limite máximo, a oferta de uma nutrição adequada e de qualidade, manejo de colostro para que os leitões adquiram uma resposta imune passiva, e a adoção de medidas de biosseguridade, são os principais fatores para diminuição do aparecimento da enfermidade. Além disso, é importante o controle de outras infecções bacterianas e/ou virais, que provocam a queda da imunidade e o consequente aumento da frequência e gravidade da doença.

Andrea Panzardi e Marcela da Silva

Especialista técnica em Biológicos e Estagiária departamento técnico em Grandes Animais

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