26 dez 2011

O que você precisa saber sobre gravidez psicológica em cadelas

As enfermidades do sistema reprodutor são comuns na Medicina Veterinária, tanto nas fêmeas quanto nos machos. Enfermidades reprodutivas de cães têm variados graus de morbidade, mortalidade e são influenciadas pelo histórico reprodutivo dos animais. As alterações reprodutivas podem acarretar consequências variadas desde a ausência de sinais clínicos com comprometimento da fertilidade até manifestações clínicas agudas que podem levar o animal a morte. Gravidez psicológica é o nome vulgarmente dado a síndrome, observada em cadelas não gestantes, denominada pseudogestação ou pseudociese. A definição da palavra pseudociese vem do grego e significa falsa gravidez (pseudo = falso, kyesis = gravidez). A pseudociese é comum em cadelas e ocorre geralmente entre a 6ª e a 14ª semana após a cadela entrar no cio. O aparecimento da pseudociese não apresenta predisposição entre faixas etárias, raças ou entre portes físicos, também não há interferência quanto à fêmea ser nulípara ou plurípara. Algumas teorias explicam o aparecimento dessa síndrome. Uma dessas teorias é que o aumento da concentração plasmática de prolactina após o período de ovulação irá acarretar a produção de leite pelas glândulas mamárias e a manutenção do corpo lúteo. O corpo lúteo, por sua vez, secreta a progesterona, hormônio responsável pela manutenção da gestação, por aproximadamente 60 dias após a ovulação. Devido à ausência de um hormônio que destrua o corpo lúteo no caso de não fertilização, o nível hormonal em animais gestantes ou não é o mesmo. A prolactina é um neuropeptídeo produzido pelas células lactotróficas da adenohipófise, cuja secreção é estimulada por meio da supressão de dopamina hipotalâmica. No cão a prolactina circulante apresenta-se sob quatro formas moleculares. Além da ocorrência no período pós-ovulação, existem outros fatores que podem predispor o desenvolvimento da pseudociese tais como: durante e após o término de um tratamento com progestágenos (hormônios similares a progesterona), após um tratamento com prostaglandina (estrógeno e progesterona) e cerca de 3 a 4 dias depois de castração total da fêmea durante o período de diestro. Cadelas com pseudociese podem ou não apresentar manifestações clínicas desta síndrome. Os sinais comumente observados são: aumento das glândulas mamárias com ou sem produção de leite, adoção de objetos inanimados ou de filhotes de outras fêmeas, preparação de “ninho” para o local do parto, lambedura do abdômen, agressividade, ganho de peso ou anorexia. Outros sinais são pouco comuns, tais como êmese (vomito), diarreia, distensão e contração da parede abdominal, poliúria (aumento do volume urinário), polidpsia (sensação de sede), polifagia (fome excessiva e ingestão exagerada de alimentos). O diagnóstico é baseado na história, sinais clínicos e comportamentos apresentados pela fêmea algum tempo após o período de cio. Depois de uma gestação real, dentro de 4 a 8 semanas após o parto o comportamento da fêmea retorna ao normal. Deste modo, espera-se que os sintomas apresentados em cadelas com pseudociese desapareçam em um período de até 8 semanas. Por se tratar de uma condição autolimitante, muitas vezes não é necessário tratamento ou apenas faz-se necessário um tratamento conservador com utilização de um colar elizabetano na fêmea para evitar que o animal estimule a secreção de leite através da lambedura das mamas. Outro tipo de tratamento conservador consiste na restrição da ingestão hídrica por 5 a 7 noites, desde que a função renal seja avaliada previamente. Quando existe um comportamento materno exagerado, a atenção do animal deve ser desviada através de estímulo à realização de atividades físicas. Em situações onde a cadela desenvolve agressividade pode ser feito o uso de tranquilizantes. Devido a especulações que relacionam a pseudociese com o aparecimento de tumores de mama, provavelmente ocasionado pelo estímulo das glândulas mamárias em fêmeas que apresentam esta alteração em vários ciclos estrais (cios), o tratamento é indicado. Dependendo do caso, pode até ser indicado um tratamento cirúrgico, que consiste na castração da cadela. Por Mariana Castelhano Diniz, Médica Veterinária e Assistente Técnica da Ourofino Saúde Animal.

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