Artigos - Controle de resíduos de antimicrobianos no leite

26 jul 2017

Controle de resíduos de antimicrobianos no leite

 

Por que se preocupar com resíduos de antimicrobianos no leite?

Os antimicrobianos são substâncias produzidas por microrganismos ou por síntese laboratorial que possuem capacidade de eliminar (antibiótico) ou inibir (quimioterápico) microrganismos. A utilização de antibióticos na produção animal é uma ferramenta fundamental para o tratamento de doenças, sendo que os primeiros usos dessas substâncias em gado leiteiro foram direcionados para o tratamento de mastite, a partir de 1940. Atualmente, nos sistemas intensivos de produção de leite, o uso de antibióticos é essencial para a manutenção da sanidade, da produtividade, do conforto e do bem- estar dos animais.

 

Para ser considerado seguro e de alta qualidade, o leite deve estar isento de resíduos de drogas veterinárias, como os antibióticos e pesticidas. Sendo assim, a presença de resíduos de antibióticos no leite é um fator que afeta negativamente a segurança e a qualidade dos derivados lácteos.

 

Considera-se resíduo de drogas veterinárias a detecção da própria substância (por exemplo, do antibiótico) ou de metabólitos (oriundos destas drogas) nos tecidos (carne e leite) dos animais tratados.

 

A prevenção e controle de resíduos de antibióticos no leite é um dos grandes desafios para a cadeia produtiva, pois afeta negativamente a manufatura de produtos lácteos fermentados, a saúde dos consumidores e a imagem de segurança do leite como alimento. Os riscos à saúde causados pela presença de resíduos de antibióticos no leite podem ser classificados em três categorias:

-Toxicidade (drogas com atividade carcinogênica ou mutagênica);

- Aumento de risco de resistência de microrganismos aos antimicrobianos;
- Hipersensibilidade (alergias).

Finalmente, a detecção de resíduos de antibióticos no leite é usada como critério de penalização do pagamento do leite. Após a detecção dos resíduos do tanque, a indústria captadora pode: descontinuar a coleta até obter resultados negativos; descontar o pagamento do volume total de leite com resíduos (volume total de leite que foi contaminado com resíduos de antibióticos).


 

Quais situações causam riscos de resíduos de antibióticos no leite?

O tratamento da mastite é a principal causa de resíduos de antibióticos no leite. No entanto, além da via intramamária, o uso de antibióticos por via oral (dieta), intramuscular e intra-uterina pode resultar em resíduos de antibióticos no leite. Após a aplicação, os antibióticos são absorvidos para corrente sanguínea, e posteriormente, podem ser liberados no leite, de acordo com a característica de cada droga. Dessa forma, o tratamento intramamário de um quarto com mastite pode causar a contaminação com resíduos nos demais quartos. Sendo assim, recomenda-se descartar todo o leite da vaca durante o tratamento e período de carência, mesmo quando é feito o tratamento intramamário em apenas um dos quartos.


As principais situações que podem causar risco de o aparecimento de resíduos de antibióticos no leite são:

a) Não respeitar o período de carência do antibiótico;
b) Erro de identificação da vaca tratada ou de anotação de dados do tratamento;
c) Uso do antibiótico sem recomendação de bula (dosagem, duração, uso de tratamento de vaca seca durante a lactação);
d) Descartar o leite apenas do quarto tratado;
e) Antecipação de partos (período seco menor do que a carência do tratamento de vaca seca);
f) Ordenhar acidentalmente vacas secas ou em tratamento;
g) Erro durante a ordenha e mistura acidental de leite livre de resíduos e leite contaminado.

 

 

As principais recomendações para reduzir o risco de presença de resíduos no leite são:
a) Implantar programa de controle de mastite para utilizar tratamentos com antibióticos de forma racional;
b) Identificar as vacas em tratamento e ordenhar separadamente estes animais;
c) Respeitar estritamente o período de carência dos medicamentos;
d) Evitar o uso de antibióticos em doses ou esquemas de tratamento não recomendados na bula (a não ser sob prescrição do médico-veterinário);
e) Treinar ordenhadores sobre o correto uso de antibióticos e necessidade de respeitar o período de carência.


 

Como é determinado o período de carência?

Após a aplicação de antibióticos, seja por via intramamária ou injetável, o leite da vaca tratada somente poderá ser destinado à alimentação humana após o período de carência ou de descarte.

 

O período de carência é definido de acordo com os limites máximos de resíduos de drogas de uso veterinário legalmente permitidos em alimentos. Estes limites máximos são estabelecidos pelo Codex Alimentarius, da FAO (Food and Agriculture Organization) e Organização Mundial da Saúde (OMS). O limite máximo de resíduo (LMR) é definido como a concentração máxima de resíduo no alimento que é legalmente aceito, sendo expresso em ppb (partes por bilhão) ou ppm (partes do milhão). Este cálculo é estimado com base numa dose diária da droga que, se ingerida durante toda a vida de um indivíduo, não representaria riscos à saúde, com base nos conhecimentos disponíveis.

 

O cálculo do período de carência dos antibióticos (período de descarte do leite ou carne após o último tratamento) é definido pelo tempo necessário para que o leite apresente concentração menor que o LMR, o que o tornaria seguro para o consumo.



O período de carência dos antibióticos para uso em animais de produção deve constar na bula do medicamento, e deve ser estritamente respeitado para evitar a ocorrência de riscos de resíduos no leite e na carne. A duração do período de carência depende de fatores como: a) dose e protocolo de tratamento utilizado; b) via de administração; c) tipo do antibiótico; d) formulação do produto. Os antibióticos para uso intramamário durante a lactação são formulados para liberação rápida e têm curtos períodos de carência (varia de 48 a 120 horas), enquanto as formulações para tratamento de vacas secas são de liberação lenta, resultando em maiores períodos de carência.

 

 

Como é feita a triagem para detectar resíduos de antibióticos?

Antes de coletar o leite do tanque, as indústrias de laticínios têm como rotina testar o leite pela prova do Alizarol (avaliar a estabilidade do leite); medir a temperatura do leite (< 7°C) e coletar uma amostra individual de cada produtor para avaliação de composição, adição de água, CBT (contagem bacteriana total), CCS (contagem de células somáticas) e detecção de resíduos de antibióticos.

 

A detecção de resíduos de antibióticos é feita por uma triagem inicial com base em amostra do volume total do caminhão-tanque, antes da descarga do leite na plataforma de recepção. Caso o resultado do teste de detecção de resíduos de antibióticos seja negativo, considera-se o volume total como adequado para ser recebido. Por outro lado, quando é detectado resultado positivo na amostra do leite do caminhão, são testadas as amostras individuais (coletadas na fazenda) de todos os produtores pertencentes à rota de coleta do caminhão. Com base nos resultados das amostras individuais, pode-se identificar o produtor responsável pela presença de resíduos de antibióticos no caminhão.

 

 

 

Quais são os principais testes usados para detectar resíduos de antibióticos no leite?

Podem ser usados testes de triagem e testes confirmatórios (exemplos: cromatografia e espectrometria; HPLC). Os testes para detecção rápida (triagem) de resíduos de antibióticos no leite são qualitativos (resultado positivo ou negativo), de acordo com o limite de detecção de cada teste, para um grupo de antibióticos ou um antibiótico específico. A maioria dos testes de triagem tem uso principal para a identificação de beta-lactâmicos, pois esse é o grupo mais usado de antibióticos no tratamento das mastites. As principais classes de antimicrobianos utilizados em medicina veterinária são:

a) beta-lactâmicos (penicilinas, cefalosporinas);
b) tetraciclinas (oxitetraciclina e clortetraciclinas);
c) aminoglicosídeos (estreptomicina, neomicina, gentamicina);
d) macrolídeos (eritromicina, espiramicina, tilosina);
e) sulfonamidas (sulfametazina, sulfadiazina);
f) quinolonas (enrofloxacina, ciprofloxacina, danofloxacina, marbofloxacina).

 

Os principais testes disponíveis no mercado para a identificação de resíduos de antibióticos no leite podem ser classificados de acordo com seu modo de ação:
a) inibição de crescimento bacteriano;
b) imunoenzimáticos (baseados em receptor específico);
 

I. Testes de inibição do crescimento bacteriano
Baseiam-se na incubação de um microrganismo (Bacillus stearothermophilus) presente em meio de cultura juntamente com a amostra de leite, por cerca de 1 a 3,5 horas. Caso a amostra tenha presença de resíduos de antibióticos (ou outros inibidores), o crescimento bacteriano será reduzido ou eliminado. Quando não há crescimento bacteriano (amostra negativa), ocorre redução do pH do meio, o que leva à mudança da cor do indicador pH (bromocresol púrpura) da cor púrpura para o amarelo.

 

II. Testes baseados em receptor específico
Baseiam-se na ligação molecular entre o antibiótico e um receptor (anticorpo ou receptor proteico).

 

 


Quadro 1 – principais características dos testes de triagem para detecção de resíduos de antibióticos no leite.

 

 

Características de desempenho dos testes de detecção de resíduos de antibióticos

O desempenho dos testes rápidos de detecção de resíduos de antibióticos no leite pode ser avaliado pela especificidade/sensibilidade e pelo limite mínimo de detecção dos antibióticos.
 

A sensibilidade é a probabilidade de identificar corretamente uma amostra verdadeiramente positiva (com presença de resíduos), enquanto especificidade é a probabilidade de identificar corretamente uma amostra verdadeiramente negativa (sem a presença de resíduos). Um teste considerado ideal seria capaz de diferenciar de forma correta, em 100% das vezes, uma amostra negativa de uma positiva quanto à presença de resíduos. No entanto, nenhum teste apresenta essa característica, sendo que à medida que aumenta a especificidade do teste ocorre a redução na sensibilidade e vice-versa.
 

Um resultado falso-negativo ocorre quando uma amostra é declarada negativa, quando na verdade apresenta concentração de resíduos acima do permitido. Por outro lado, pode ocorrer o resultado falso-violativo, quando o teste declara positiva uma amostra que apresenta resíduo, mas em uma concentração menor que o limite máximo permitido legalmente.
 

Resultado falso-positivo ocorre quando a amostra é declarada positiva sendo que, no entanto a amostra não apresenta resíduos. Alguns estudos científicos comprovaram que podem ocorrer resultados falso-positivos quando se utiliza testes de Inibição de crescimento bacteriano. Entre as razões para essa ocorrência são apontados os altos níveis de inibidores naturais (lactoferrina e lisozima) em vacas com mastite ou produzindo colostro, cuja ação é inibir o crescimento de microrganismos e dessa forma, interferem no desempenho de testes baseados em crescimento de microrganismos. Além desses inibidores, o tempo de incubação das amostras influencia os resultados, sendo que 2,5 horas de incubação resulta em maior ocorrência de falso-positivos do que 3 horas.
 

Em estudo realizado no Japão foram avaliados 73 tratamentos de mastite utilizando os antibióticos beta-lactâmicos (penicilinas e cefalosporinas). Amostras de leite foram coletadas para detecção de resíduos de antibióticos utilizando um teste de inibição do crescimento. Do total de amostras, 24 apresentaram resultados positivos para resíduos de antibióticos. Após o tratamento térmico (82°C por 5 minutos) apenas 3 amostras permaneceram positivas, sendo confirmada presença de resíduo de antibiótico por outros dois testes. Os resultados desse estudo indicam que o tratamento térmico de amostras antes da realização de testes de inibição do crescimento é uma excelente estratégia para inativar os inibidores naturais e reduzir a ocorrência de falso-positivos.
 

é importante levar em consideração as características específicas de cada teste de detecção de resíduos para a correta interpretação dos resultados obtidos e para a tomada das decisões. Resultados falso-positivos causam perdas substanciais para os produtores, pois levam a rejeição do leite e pagamento das perdas de outros produtores que foram contaminados com resíduos de antibióticos.

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Comentários

SIMAO JOSE MURAL

Quarta-feira, 06 de Dezembro de 2023

Ótimo conteúdo de grande valia
Bom estar por dentro de conteúdos dentro de minha área

Ourofino Saúde Animal

Quarta-feira, 06 de Dezembro de 2023

Oi Simão,

Espero que esteja bem.

Obrigada pelo seu comentário, ficamos muito felizes em receber.

Conte sempre com a Ourofino.


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