05 mar 2012

Anemia Infecciosa Equina (AIE)

A AIE é uma enfermidade classificada pela OIE como grave, causadora de enormes prejuízos e alvo de controle internacional, ou seja, é doença de notificação obrigatória, integrante do Programa Nacional de Sanidade Eqüídea (PNSE) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), e cujo combate libera as barreiras de exportação, com significativa importância econômica (CDA, 2007). É também conhecida como Febre dos Pântanos, Malária Equina ou Aids Equina, é causada por um vírus do gênero Lentivírus da família Retroviridae. A classificação é baseada na sua estrutura, organização genética, atividade da transcriptase reversa e reatividade sorológica cruzada (WEIBLEN, 2001). O vírus é transmissível a todos os equídeos, sem que haja qualquer preferência por raça, sexo ou idade. É encontrado em quase todos os países do mundo, exceto na Antártica, e sua frequência tem aumentado a cada dia. No Brasil, o problema ainda continua atingindo proporções preocupantes no Pantanal do Mato Grosso e na Ilha de Marajó, devido às características geoclimáticas dessas regiões (THOMASSIAN, 2005). Os insetos vetores responsáveis pela transmissão do vírus da AIE são todas as grandes moscas mordedoras, como Stomoxys calcitrans (mosca-dos-estábulos), Chrysops sp. (mosca do cervo) e Tabanus sp. (mosca-do–cavalo). A transmissão é mecânica, o vírus não se replica nos insetos (THOMASSIAN, 2005). O clima quente e úmido é a melhor época para os tabanídeos se alimentarem e reproduzirem. Equídeos adultos atraem mais esses insetos, ficando os potros para segundo plano e regiões de pântanos são as que mais possuem hospedeiros, influenciando na disseminação da doença (RADOSTITS et al., 2002). A transmissão também ocorre pelo emprego de instrumental cirúrgico, agulhas hipodérmicas não esterelizadas, sonda esofágica, trocater, ranilhas, raspadeiras, esporas, tatuadores e arreios. (RADOSTITS et al., 2002). Entre os eqüídeos, a transmissão da infecção parece ser possível através de swabs usados para coletar saliva para testes de doping, no sêmen de garanhão infectado, por transfusão sanguínea, pelo colostro ou leite da fêmea e por via intra-uterina (THOMASSIAN, 2005). A anemia característica da doença de equídeos que estejam sofrendo vários episódios febrís de AIE é atribuível ao curto período de vida das hemácias e produção reduzida da hemácia. A infecção com o vírus da AIE encurta o período de vida das hemácias circulantes aproximadamente para 38 dias, comparado com o valor normal de 130 dias (RADOSTITS et al., 2002). Nos casos agudos e subagudos, com curso variando entre 10 e 30 dias até a morte, o animal afetado mostrará anorexia, fraqueza, anemia e estará febril, oscilando sua temperatura comumente entre 39 e 41ºC (CORRÊA, 1992). As fêmeas prenhes podem abortar (RADOSTITS et al., 2002). Muitos animais demonstram recuperação temporária dessa fase aguda, outros tornam-se progressivamente fracos. Os animais que demonstram recuperação temporária podem parecer normais por2 a3 semanas e, em seguida, ocorre recidiva com sinais similares, porém menos graves. Alguns animais acometidos parecem ter completa recuperação, entretanto permanecem infectados e podem sofrer recidivas. A maioria dos óbitos ocorre em um ano de infecção. Os sobreviventes persistem como portadores assintomáticos (RADOSTITS et al., 2002). O diagnóstico de certeza da AIE deve ser feito usando testes sorológicos. Os testes laboratoriais aprovados para diagnóstico da infecção pelo vírus da AIE são a IDGA ou teste de Coggins e o Elisa competitivo. A validade do resultado negativo para o exame laboratorial da AIE é de 180 dias para propriedade controlada e de 60 dias para os demais casos. De acordo com o MAPA e a SDA o Médico Veterinário requisitante do exame para diagnóstico da AIE deverá estar inscrito no Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) da respectiva Unidade Federal e ser o responsável pela colheita do material para exame e pela descrição do animal de forma completa e acurada (resenha). Em caso de resultado positivo e havendo decisão do proprietário em requerer contraprova ou reteste, o animal deverá permanecer isolado após o recebimento do resultado positivo no primeiro exame até a classificação final, quando serão adotadas as medidas preconizadas. Para diagnóstico diferencial estão incluídas algumas doenças agudas como: babesiose, parasitismo, leptospirose, trombocitopenia idiopática, anemia hemolítica autoimune, arterite viral equina, erliquiose granulocítica equina e púrpura hemorrágica (RADOSTITS et al., 2002). O controle da AIE é ainda universalmente baseado na erradicação da doença, identificando-se os animais infectados com o teste sorológico e descartando-os em seguida (RADOSTITS et al., 2002). Algumas medidas podem ser adotadas no controle da AIE entre elas estão: não permitir a entrada e permanência de equídeos estranhos na propriedade, quando da introdução de um animal no plantel deve-se exigir o atestado negativo para AIE ou manter o mesmo isolado durante 30 dias e realizar um exame sorológico. Controlar com repelentes as moscas e mosquitos, drenar áreas pantanosas, utilizar sempre material descartável e limpeza de todos os utensílios utilizados nos animais (PNSE, 2007). Em casos de surtos da AIE deve-se fazer a interdição da movimentação de equídeos nas propriedades, isolamento de animais suspeitos ou soropositivos, proibição da participação dos equídeos em locais onde haja a concentração de animais e eliminação dos comprovadamente positivos. O sacrifício do animal será realizado, somente, após um novo teste, 15 (quinze) dias após a primeira prova (WEIBLEN, 2001). Os programas de controle, baseados nesse sistema de teste e abate, estão sob pressão por causa da visão dos proprietários dos animais, de que muitos animais assintomáticos com infectividade muito baixa estão sendo destruídos desnecessariamente (RADOSTITS et al., 2002). A AIE não é uma zoonose, portanto não representa risco à saúde pública. Os únicos afetados são os equídeos, o que traz por consequência, repercussões negativas de ordem econômica, social e até afetiva para os criadores.  

REFERÊNCIAS

BEER, J. Doenças Infecciosas em Animais Domésticos. Parte 1. São Paulo: Roca,1999, p.211-218. CORRÊA, W. M.; CORRÊA, N. M.; Enfermidades Infecciosas dos MamíferosDomésticos, Rio de Janeiro: Medsi,1992, p.695-698. PNSE, Programa Nacional de Sanidade de Eqüídeos. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/portal/page? Acesso em 27/04/2007. RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C.; HINCHCLIFF, K. W.; ClínicaVeterinária. 9ª. edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002, p. 927-930. SAVAGE, C. J. Segredos em Medicina de Eqüinos. Porto Alegre: Artmed, 2001, p.43. THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. São Paulo: Varela, 2005, p.471-472. WEIBLEN, R.; Anemia Infecciosa Eqüina In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MÉNDEZ, M. D.; LEMOS, R. A. A.; Doenças de Ruminantes e Eqüinos, Vol 1, São Paulo: Varela, 2001, p.49-54.

Maria Izabel

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