Artigos - Anaplasmose bovina: uma doença silenciosa

05 nov 2012

Anaplasmose bovina: uma doença silenciosa

A anaplasmose é uma importante doença que causa grandes prejuízos devido à morte dos animais infectados, abortos, perdas na produtividade e gastos com medidas preventivas para o controle dos vetores (RADOSTITS, 2002). O principal agente causador da anaplasmose bovina é o Anaplasma marginale (KOCAN, 2007). Ele pode ser transmitido biologicamente pelos carrapatos e mecanicamente por picadas de mosquitos e moscas hematófagas (GONÇALVES, 2000). Outras formas de transmissão podem ser a iatrogênica ou transplacentária (KESSLER, 2001). No Brasil, onde o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus ocorre de forma endêmica as evidências epidemiológicas sugerem ser ele o principal vetor de Anaplasma marginale (GUGLIELMONE, 1995; KESSLER, 2001). O carrapato se infecta ao ingerir o Anaplasma marginale, logo após, migra para as células intestinais doparasito, desenvolve-se e infecta outros tecidos, inclusive as glândulas salivares. Ao fazer o repasto sanguíneo transmite a bactéria para o hospedeiro definitivo. Anaplasma marginale é um parasito intraeritrocitário obrigatório, após a penetração no bovino, entra na parede celular do eritrócito e desenvolve um vacúolo, nesse vacúolo muda da forma vegetativa para a forma infectante denominada densa, capaz até de sobreviver fora da célula, esta quando ingerida novamente pelo carrapato, reinicia-se o ciclo. (KOCAN, 2007). A anaplasmose causa principalmente anemia nos bovinos, a formação do vacúolo na parede da célula forma as proteínas de membrana, que ao serem reconhecidas pelo baço são destruídas no momento da passagem do eritrócito pelo órgão, o grau da anemia varia de acordo com a proporção de eritrócitos infectados (BLOOD e RADOSTITS 1989). Uma doença de importância que está diretamente relacionada à anaplasmose é o complexo “Tristeza Parasitária Bovina”, que ocorre devido à infecção simultânea pelo protozoário intraeritrocitário obrigatório Babesia bovis,Babesia bigemina e pela bactéria Anaplasma marginale. A babesiose é transmitida pelo carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus e causa no animal quadro febril acompanhado de anemia, hemoglobinúria entre outros sinais, se não tratado pode causar morte (TRINDADE, 2011). Os sinais clínicos causados pela infecção por Anaplasma são febre, perda do apetite, emagrecimento, pelos arrepiados, taquicardia, taquipnéia, redução dos movimentos de ruminação, anemia e icterícia (FARIAS, 2007). Devido aos sinais clínicos pouco específicos para anaplasmose e a grande quantidade de enfermidades, no diagnóstico diferencial pode ser necessário a utilização de testes laboratoriais para a confirmação da doença. Na fase aguda é o momento em que a parasitemia é alta e a bactéria é facilmente identificada nos eritrócitos dos bovinos, quando se faz o esfregaço sanguíneo delgado corado pela técnica de Giemsa. Após a fase aguda, ocorre queda na parasitemia e este método torna-se falho, então outros métodos de diagnóstico, de forma direta ou indireta, podem ser realizados. Além dessas formas ainda pode ser feito o diagnóstico “post mortem”, por meio da necropsia (VIDOTTO, 2001). O primeiro relato de surto ocorreu no Canadá em 1971, mas esse surto foi resultado da transmissão mecânica de animais portadores para locais em que a Anaplasma marginale não existia. O conhecimento epidemiológico é fundamental para se estabelecer um programa sanitário para anaplasmose bovina, as regiões tropicais são endêmicas para a doença por possuírem grande população de vetores (RADOSTITS, 2002). Sendo assim fez-se necessário classificar as regiões de produção, em área livre, locais onde não ocorre infestação; áreas de instabilidade enzoóticas ou epidêmicas, que são regiões onde a condição climática determina sazonalidade na infestação dos vetores e consequentemente no nível de anticorpos e áreas de estabilidade enzoótica ou endêmica, onde o clima permite que os animais sejam infectados o ano todo e dessa forma mantendo os níveis de anticorpos elevados (FARIAS 2007). Existem medidas preventivas já estabelecidas, como por exemplo, a premunição, quimioprofilaxia e vacinas (FARIAS, 2007). Em casos da ocorrência da doença o tratamento adotado é a aplicação das tetraciclinas (MADRUGA, 1986; BLOOD e RADOSTITS, 1989). A solução da Ourofino para anaplasmose bovina é a administração do Ourotetra Plus LA, na dose 1 mL/10 Kg de peso vivo (oxitetraciclina, 20mg/Kg de peso vivo, via intramuscular profunda ou subcutânea) e em casos graves pode ser necessário tratamento de suporte. É importante ressaltar que para o tratamento da babesiose deve ser utilizado o Pirofort (diaceturato de diminazeno, 3,5 mg/Kg de peso vivo), na dose 1 mL/20 Kg de peso vivo, por via intramuscular profunda. Pirofort associado ao Ourotetra Plus LA cura a Tristeza Parasitária Bovina (anaplasmose + babesiose). É muito importante consultar o médico veterinário e seguir as orientações da bula do produto.   Referências BLOOD, D. C. e RADOSTITS, O. M. Doenças Causadas por Riquétsias. In: BLOOD, D. C. e RADOSTITS, O. M. Clínica Veterinária, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S. A., p.807-810, 1989. FARIAS, N. A. Tristeza Parasitária Bovina. In: RIET-CORREA, F. et al. Doenças de Ruminantes e Equídeos. Santa Maria – RS: Pallotti, 2007. p.524-532. GONÇALVES, P. M. Epidemiology and control of bovine babesiosis and anaplasmosis in southeast region of Brazil. Ciência Rural. v.30, p.187-194, 2000. GUGLIELMONE, A. Epidemiologia y prevencion de los Hemoparasitos (Babesia y Anaplasma) en la Argentina. In: NARI, A., FIEL, C. Enfermidades parasitarias de importância econômica en bovinos. Montevideo, Uruguay: Hemisferio Sur, 1994. cap. 23, p. 460-479. KESSLER, R.H.; SCHENK, M.A.M. Diagnóstico parasitológico da tristeza parasitária bovina. In: Carrapato, Tristeza Parasitária e Tripanossomose dos Bovinos. EMBRAPA Gado de Corte. p.81-90, 1998. KESSLER, R.H. Considerações sobre a transmissão de Anaplasma marginale. Pesquisa Veterinária Brasileira. v.21, n.4, p.177-179, 2001. KOCAN, K. M.; DE LA FUENTE, J.; BLOUIN, E. F. et al. Anaplasma marginale (Rickettsiales : Anaplasmataceae): recent advances in defining host–pathogen adaptations of a tick-borne rickettsia. Veterinay Parasitology. v.120, p.285–300, 2007. MADRUGA, C. R.; BERNE, M. E. A.; KESSLER, R. H. et al. Diagnóstico da tristeza parasitária bovina no estado de Mato Grosso do Sul: inquérito de opinião. Campo Grande: EMBRAPA Gado de Corte, 1986. 40 p. (Circular Técnica, 18). RADOSTITS, O.M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C. et al. Clínica Veterinária Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Equinos. 9ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. TRINDADE, H. I.; ALMEIDA, K. S.; FREITAS, F. L. C. Tristeza Parasitária Bovina. Revista Científica Eletrônica De Medicina Veterinária, v.16, p.1 – 21, 2011. VIDOTTO, O.; MARANA, E. R. M. Diagnóstico em anaplasmose bovina. Ciência Rural. v.31, p.361-368, 2001.   Por Marcel Kenzo V. Onizuka

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