27 dez 2011

Presynch: protocolo de pré-sincronização simples e eficiente

Como já discutimos em artigos anteriores, há diversos dados que evidenciam que o protocolo Ovsynch é um bom protocolo. Entretanto, há situações específicas nas quais a chance de sucesso é máxima ou muito reduzida. Vasconcelos et al. (1999) estudaram a possível influência do dia do ciclo estral ao início do protocolo Ovsynch sobre a taxa de prenhez de vacas Holandesas e verificaram que quando se inicia o protocolo Ovsynch entre o 5º e o 10º dia do ciclo estral a chance de sucesso é maior, uma vez que a chance de ovulação ao primeiro GnRH é aumentada. Neste mesmo estudo foi verificado que o animal que ovula ao primeiro GnRH possui maior a probabilidade de sucesso na sincronização da ovulação (2,09 vezes maior) do que quando não há ovulação. Assim, podemos assumir que existem 2 importantes pontos interligados que determinam o sucesso da sincronização da ovulação utilizando o protocolo Ovsynch: 1)      Dia do ciclo em que o protocolo é iniciado; 2)      Resposta ovulatória ao primeiro GnRH. Com base nesta informação, diversos grupos de pesquisa desenvolveram diversos tipos e variações de protocolos de pré-sincronização para controlar o dia do ciclo estral no qual se inicia o Ovsynch e, assim, garantir uma melhor eficiência de resposta ao tratamento. Neste artigo iremos apresentar informações sobre o protocolo Presynch, desenvolvido ao redor do ano 2000. Este é um dos mais populares protocolos de pré-sincronização, devido a sua simplicidade, facilidade de aplicação e resultados favoráveis. A primeira “versão” do Presynch foi desenvolvida pelo grupo do professor Willian W. Tatcher da Universidade da Flórida em Gainsville e publicado em 2001 por Moreira e colaboradores. Estes pesquisadores desenharam um protocolo de pré-sincronização para comparar as taxas de prenhez de vacas que iniciaram o protocolo de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) em estágios aleatórios do ciclo estral com as taxas de vacas que iniciaram o protocolo em um estágio específico do ciclo. Para isso utilizou-se a aplicação de duas injeções de prostaglandina F(PGF)com 14 dias de intervalo, seguida pelo Ovsynch 12 dias após. A PGFfoi descoberta no início da década de 70 como um potente agente luteolítico. A partir de então, esta substância e seus análogos têm sido os agentes farmacológicos mais utilizados nos tratamentos para sincronização do estro em fêmeas bovinas. Os regimes de sincronização de estro utilizando prostaglandinas e seus análogos estão baseados na sincronização da fase progesterônica do ciclo estral. O sucesso da sincronização do estro depende da presença de um corpo lúteo (CL) responsivo ao fármaco, já que a ação da luteolisina é de provocar a regressão morfológica e funcional dessa estrutura e, consequentemente, a queda dos níveis endógenos de progesterona. A resposta ao tratamento com PGFé influenciada pela maturidade do CL, assim tratamentos realizados até o dia 5 do ciclo estral não induzem efetivamente a luteólise. Além disso, após uma única aplicação de PGF foi observado que o estro e a ovulação são distribuídos ao longo de seis dias e são influenciados não apenas pela responsividade do CL, mas também pelo estágio de desenvolvimento do folículo dominante, podendo variar de 2 a 6 dias. Para melhorar a eficiência da sincronização do cio com PGF foram desenvolvidos protocolos com duas aplicações seqüenciais intervaladas de 11 a 14 dias e observou-se maior sincronia e número de animais com sinais de estro após a segunda aplicação de PGF. Verificou-se também que a aplicação de duas PGF com intervalo de 14 dias (duas semanas) apresentou um bom resultado de indução de emergência de nova onda folicular, porém com considerável dispersão desta, o que impossibilita a realização da IATF. Entretanto, este protocolo poderia possibilitar a realização da pré-sincronização de uma onda folicular para se conseguir um grande número de animais entre o 5º e o 10º dia do ciclo estral e, assim,  aumentar a chance de sucesso do protocolo Ovsynch. Para isso Moreira et al. (2001) compararam as taxas de prenhez das vacas que iniciaram o protocolo de IATF em estágios aleatórios do ciclo (sem pré-sincronização) e vacas que iniciaram o protocolo de IATF em um estágio controlado do ciclo estral (com pré-sincronização). Aos 37 ± 3 dias pós-parto (PP), vacas Holandesas (n = 543) foram distribuídas aleatoriamente nos grupos controle ou pré-sincronização. As vacas do grupo controle foram sincronizadas com o protocolo Ovsynch sem nenhum tratamento anterior. Já as vacas do grupo com pré-sincronização foram submetidas ao Presynch, ou seja, duas administrações de PGF com intervalo de 14 dias (37 ± 3 e 51 ± 3 dias PP, respectivamente) e posteriormente (12 dias após) iniciaram o proto Ovsynch (63 ± 3 d PP). Sabe-se que um sistema de pré-sincronização baseado na utilização de duas injeções de PGF não tem efeito em vacas em anestro, uma vez que elas não respondem a PGF. Assim, os pesquisadores idealizaram que cerca de 90-95% das vacas cíclicas que receberam o tratamento Presynch estariam em estro no prazo de 7 dias após a segunda injeção de PGF2α e, se a primeira injeção de GnRH do protocolo de IATF fosse administrada 12 d após a segunda injeção de PGF2α as vacas poderiam iniciar o protocolo de IATF entre dos dias 5 e 11 do ciclo estral, que seria o momento ideal com base nos estudos anteriores. Para determinar a porcentagem de vacas cíclicas ou não no dia de inicio do protocolo Ovsynch os autores coletaram amostras de sangue que foram direcionadas a dosagem de progesterona. Foi verificado que a pré-sincronização influenciou a fase do ciclo estral em que o protocolo de IATF foi iniciado. A freqüência de vacas classificadas com padrão alto de progesterona 12 dias antes do GnRH e baixa progesterona no dia do primeiro GnRH (alto-baixo) foi reduzida no grupo Presynch. Os animais com esse padrão provavelmente são aqueles que receberam a primeira aplicação de GnRH do protocolo de IATF na fase lútea tardia do ciclo estral, sendo que isso pode ter levado ao cio e ovulação antes do horário da inseminação. Essa assincronia entre a ovulação e a IA foi provavelmente responsável pela baixa taxa de prenhez (34,8%) das vacas com perfil “alto-baixo” de progesterona. Assim, o uso de Presynch reduziu a freqüência de vacas classificadas como “alto-baixo” durante o protocolo de IATF e, em conseqüência, melhorou (P < 0.01) a taxa de prenhez ao primeiro serviço desses animais. Também foi encontrada maior porcentagem de vacas com perfil “alto-alto” de progesterona no grupo Presynch em comparação com as vacas não pré-sincronizadas. Curiosamente, o Presynch também aumentou as taxas de prenhez entre vacas cíclicas classificadas como “alto-alto” progesterona (P < 0.02). Outras análises mostraram que as concentrações plasmáticas de progesterona imediatamente antes da primeira aplicação de GnRH do protocolo de IATF não diferiram. Porém, as concentrações plasmáticas de progesterona no dia da PGF2α foram maiores para as vacas do grupo Presynch em relação ao grupo controle. Além disso, as concentrações plasmáticas de progesterona no momento da injeção de PGF2α foram associadas positivamente com as taxas de prenhez a IATF. Esta maior concentração de progesterona plasmática no momento da PGF2α em vacas pré-sincronizadas pode ser uma conseqüência da reduzida variação da fase do ciclo em que o protocolo de IATF foi iniciado. Assim, a pré-sincronização de vacas antes do início do protocolo de IATF aumentaria o percentual de vacas ovulando a primeira aplicação de GnRH e, conseqüentemente, aumentaria a taxa de prenhez. Desta forma, os autores acreditam que a pré-sincronização em vacas cíclicas pode ter aumentado as taxas de prenhez ao primeiro serviço por três mecanismos: 1) por melhorar o estado de saúde do trato reprodutivo (uso de duas PGFpreviamente ao protocolo de IATF), 2) por aumentar o número de ciclos estrais antes da inseminação artificial, ou 3), por iniciar o protocolo de IATF em uma fase mais favorável do ciclo estral e aumentar assim, a porcentagem de vacas com ovulação sincronizada. Logo, podemos concluir que a utilização do protocolo Presynch melhorou a taxa geral de prenhez em comparação aos animais não pré-sincronizados. Ainda, o protocolo foi mais eficiente nos animais com padrão “alto-alto” de progesterona, mostrando a eficiência da pré-sincronização. Por Henderson Ayres e Roberta Machado Ferreira, Departamento de Reprodução Animal da FMVZ-USP.

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