Artigos - Úlcera gástrica: um quadro silencioso que causa prejuízos econômicos para a suinocultura

01 nov 2016

Úlcera gástrica: um quadro silencioso que causa prejuízos econômicos para a suinocultura

A úlcera gástrica é uma das principais causas de mortalidade de fêmeas suínas em diversas regiões do mundo (Vestergaard et al. 2006, Sanz et al. 2006, Vearick et al. 2008, Menegat, 2013). No suíno, a úlcera gástrica ocorre, na maioria dos casos, na região do quadrilátero esofágico, uma área anatomicamente aglandular e que, por não produzir muco, torna-se uma região desprotegida frente à ação o pH ácido e de enzimas existentes no estômago (Sobestiansky  & Kieckhöfer, 2012) (Figura 1). São diversos os fatores que predispõem à ocorrência de úlcera, sendo o estresse uma das principais, associado à composição e ao fornecimento da ração não adequados. A forma de manejar e medicar os animais, causas infecciosas e fatores relacionados à sazonalidade e à temperatura também têm influência na ocorrência da lesão gástrica.

Figura 1: Paraqueratose com presença de ponto de ulceração na região do quadrilátero esofágico do estômago de um leitão

O estresse gera diversos efeitos nocivos à imunidade do animal, sendo importante evitar manejos estressantes como: superlotação de baias, mistura de lotes e origens, jejum prolongado, transporte por tempo prolongado ou em ambiente inadequado, restrição de espaço, dificuldade de acesso ao comedouro e agressão aos animais. Outro fator importante relacionado à ocorrência de úlceras é a composição da ração, sendo a granulometria um dos principais pontos a serem considerados, uma vez que quanto mais fina a ração for, maior a incidência de úlceras (Wondra et al. 1995). O uso de rações peletizadas, grãos extrusados em altas temperaturas, soro de leite na formulação, dietas pobres em vitamina E e selênio e níveis altos de ácidos poli-insaturados também são fatores predisponentes (Sobestiansky  & Kieckhöfer, 2012).

Além da composição, o método de fornecimento também influencia, sendo que a mudança na rotina do manejo alimentar aumenta as chances de acometimento. A forma de manejar os animais influencia de acordo com o nível de estresse gerado e, quanto à medicação, a utilização de tratamentos prolongados ou constantes com diclofenaco ou flunixin meglumine podem predispor ao processo de formação da úlcera (Carvalho et al. 2004; Luna et al. 2007). Doenças respiratórias são associadas à ocorrência de úlceras, muito provavelmente devido à apatia e à redução de ingestão de alimento. Altas temperaturas também podem ser correlacionadas à presença de úlcera, porém, quanto à sazonalidade, dados mostram maior ocorrência durante o inverno e a primavera (Sobestiansky  & Kieckhöfer, 2012).

Para evitar que os animais desenvolvam quadros de úlcera gástrica, deve-se trabalhar preventivamente, controlando os fatores predisponentes citados. Estes, por sua vez, devem ser evitados, levando em consideração que o estresse não predispõe apenas a ocorrência de úlcera, mas também reduz a imunidade do plantel como um todo. É fundamental verificar a granulometria, evitando que a ração fique muito fina, bem como a composição e a formulação da ração. O manejo de alimentação deve seguir uma rotina, lembrando que o jejum por tempo prolongado é um fator de grande impacto para a ocorrência de úlcera gástrica (Sobestiansky & Kieckhöfer, 2012). Quanto à medicação, a Ourofino Saúde Animal dispõe de um produto à base de meloxicam, o Maxicam 2% (Figura 2).  Este anti-inflamatório atua apenas bloqueando os sítios causadores da inflamação, não afetando a produção de protetores gástricos, mesmo quando utilizado em tratamentos a médio e a longo prazo. A indicação é de 1 mL a cada 50 kg de peso vivo,  o que corresponde a uma dose de 0,4 mg/kg peso vivo. O controle de doenças que provocam inapetência também contribui com a redução de quadros de úlceras. O efeito da sazonalidade é difícil de ser controlado, no entanto, buscar uma ambiência adequada para cada categoria de animal é o ideal para reduzir as chances de estresse térmico e, por consequência, úlceras gástricas.

Carvalho, W.A. et al. Analgésicos Inibidores Específicos da Ciclooxigenase-2: Avanços Terapêuticos. Ver. Bras. Anestesiol. v.54. n.3. p.448-464; 2004.

Luna, S.P. et al. Evaluation of adverse effects of long-term oral administration of carprofen, etodolac, flunixin meglumine, ketoprofen, and meloxicam in dogs. Am. J. Vet. Res. v. 68, n.3, p.258-264, 2007.

Menegat, M.B. Relatório de Estágio Curricular Obrigatório Supervisionado. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. 2013.

Sanz, M. et al. Assessment of sow mortality in large herd. J. Swine Health Prod., v.15, n.1, p.30-36, 2007.

Sobestiansky, J.; Kieckhöfer, H. Úlcera gástrica. In: Doenças dos suínos. 2a ed. 2012.

Vearick, G. et al. Causas associadas à morte de matrizes suínas. Arch. Vet. Sci., v.13, n.2, p.126-132, 2008.

Vestergaard, K.; Baekbo, P.; Svensmark, B. Sow mortality and causes for culling of sows in Danish pig herds. In: International Pig Veterinary Society Congress (IPVS), v.19, p.255, 2006.

Wondra, K.I.; Hancock, J.D.; Benke, K.C..; Stark, C.R. Effect of mil type and particle size uniformity on growth-performance, nutriente digestibility and stomach morphology in finishing pigs. J. Anim. Sci., v. 73, p.427, 1995.

 

Andrea Panzardi, especialista técnica em suínos na Ourofino Saúde Animal

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