03 dez 2013

Tripanossomíase Bovina

Originário da África e atualmente distribuídos em todos os continentes, o Trypanossoma spp é um importante hemoparasito com potencial para desencadear sérios prejuízos à pecuária bovina dos países onde se encontra instalado (CORRÊA e CORRÊA, 1992). No Brasil, a espécie de maior relevância para os bovinos é o Trypanossoma vivax (RIET-CORREA et al., 2007) e embora pouco mencionado é causador de grande impacto sanitário aos bovinos. A transmissão do Trypanossoma pode se dar de duas maneiras, biológica e mecânica. A primeira ocorre pela mosca do gênero Glossina sp., também conhecida como Tsé Tsé (LODOS; IKEDE, 1972).

A transmissão mecânica, de maior importância no Brasil, se dá por meio de moscas hematófagas, principalmente a mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans), difundida em boa parte do território nacional (SILVA et al., 2003). O primeiro caso de tripanossomíase registrado em território brasileiro ocorreu em 1972, em búfalos no estado do Pará e em 1995 o Trypanossoma vivax foi identificado em bovinos no Mato Grosso.

Desde então outros casos de tripanossomíase foram relatados na região Nordeste e Centro-Oeste do país (BATISTA et al., 2008; LOSOS e IKEDE, 1972; SILVA et al., 1996). Batista et al. (2008) em um estudo epidemiológico da doença no estado da Paraíba, observou-se uma variação sazonal no número de casos de tripanossomíase, aumentando conforme a época do ano em que aumentava a incidência de vetores mecânicos no rebanho. Na maioria dos casos a tripanossomíase bovina se apresenta como uma doença crônica, de alta morbidade e baixa letalidade, sendo esta dependente da cepa que está infectando o animal. Os principais sinais clínicos dos animais acometidos são emagrecimento progressivo, debilidade, anemia, edema subcutâneo e de membros, lacrimejamento excessivo, conjuntivite, hiperexcitabilidade, sinais neurológicos e em casos mais graves coma (JONES et al., 2000).

Quanto ao curso clínico da doença, Paiva et al. (2000) dividiram a tripanossomíase bovina em duas fases distintas: fase inicial ou aguda, onde os animais tendem a apresentar alta quantidade de parasitos no sangue (parasitemia) e picos febris, e a fase crônica, onde há baixa ou nenhuma parasitemia, anemia, sendo notável a redução na produtividade e perda de peso.

O Trypanossoma vivax também pode causar danos reprodutivos em bovinos, provocando nos machos perda de libido, retardamento da puberdade e baixa qualidade seminal, e nas fêmeas podem ocorrer ciclos estrais anômalos, anestro (períodos de inatividade ovariana), morte fetal, distocia (dificuldade no parto) e abortos (SILVA et al., 2004; BATISTA et al., 2008). O diagnóstico desta doença deve ser feito por meio do exame de sangue, esfregaço sanguíneo ou testes sorológicos como a hemaglutinação e a fixação de complemento (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Todas as características clínicas associadas à alta morbidade já antes citadas, e o surgimento de outras enfermidades concomitantes a tripanossomíase nos bovinos, fazem desta um grave problema econômico para a bovinocultura, causando prejuízos estimados em 160 milhões de dólares por ano somente na região do pantanal brasileiro (SEIDL et al., 1999). Em Minas Gerais, uma descrição realizada por Abrão et al. (2009) demonstrou os impactos econômicos que a doença provocou numa propriedade leiteira. Em tal relato foram observados principalmente queda de 47% na produção de leite, despesas com o tratamento, prejuízos decorrentes do descarte do leite, aumento significativo no número de óbitos e abortos, quando comparados ao período em que doença não havia sido introduzida na propriedade. O mesmo autor ainda relata que o tratamento com o princípio ativo diaceturato de diminazeno foi eficiente no controle da doença. Verificou-se que um dia após a aplicação do fármaco o Trypanossoma vivax já estava ausente no esfregaço sanguíneo dos animais. Ainda em relação ao tratamento é recomendado que o tratamento seja realizado somente nos animais que apresentam a sintomatologia clínica da doença.

Ressalta-se a importância de um diagnóstico preciso e início precoce do tratamento na prevenção de surtos (BATISTA et al., 2008). É importante ressaltar que o Médico Veterinário sempre deverá ser consultado.

 REFERÊNCIAS:

ABRÃO, D. C.; CARVALHO, A. U.; FACURY FILHO, E. J.; SATURNINO, H. M.; RIBEIRO, M. F. B. Impacto econômico causado por Trypanosoma vivax em rebanho bovino leiteiro no estado de Minas Gerais. Ciência Animal Brasileira, s.1, 2009 . BATISTA, J. S.; BEZERRA, F. S. B.; LIRA, R. A. L.; CARVALHO, R. G.; NETO, A. M. R.; PETRI, A. A.; TEXEIRA, M. M. E. Aspectos clínicos, epidemiológicos e patológicos da infecção natural em bovinos por Trypanosoma vivax na Paraíba. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.28, p.63-69, 2008. CORRÊA, W. M. e CORRÊA, C. N. M. Enfermidades Infecciosas dos Mamíferos Domésticos. 2ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1992, p.843. p.726-729. LOSOS, G. J.; IKEDE, B. O. Review of pathology of diseases in domestic and laboratory animals caused by T. congolense, T. vivax, T. bruceii, T. rhodediense and T. congolense. Vetetinary. Pathology. v.9, p.267-274.1972. PAIVA, F.; LEMOS, R. A. A.; NAKASATO, L.; MORI, A. E.; BRUM, K. B.; BERNARDO, K. C. Ocorrência de Trypanosoma vivax em bovinos do Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil: I – Acompanhamento clínico, laboratorial e anatomopatológico de rebanhos infectados. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, São Paulo, v.22, p.135-141, 2000. RIET-CORREA, F. Tripanossomíase em bovinos. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; LEMOS, R. A. A.; BORGES, J. R. J. Doenças de Ruminantes e Equídeos. 3. ed. Santa Maria: Ed. Pallotti, 2007. p.696-701. SEIDL, A.; DÁVILA, A. M. R.; SILVA, R. A. M. S. Estimated financial impact of Trypanosoma vivax on the Brazilian Pantanal and Bolivian lowlands. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.94, p.269–272, 1999. SILVA, R. A. M. S.; SILVA, J. A.; SCHNEIDER, R. C.; FREITAS, J.; MESQUITA, D.; MESQUITA, T.; RAMIREZ, L.; DÁVILA, A. M. R.; PEREIRA, M. E. B. Outbreak of trypanosomiasis due to Trypanosoma vivax (Ziemann 1905) in bovines of the Pantanal, Brazil. Memórias Inst. Oswaldo Cruz, p.561-562, 1996. SILVA, R. A. M. S.; SANCHEZ, V.; DÁVILA, A. M. R. Métodos de Diagnósticos Parasitológicos das Tripanosomoses Bovinas e Equinas. Circuito Técnico. n.41, Embrapa Pantanal, Corumbá, MS. 3p., 2003. SILVA, A. S.; ZANETTE, R. A.; OTTO, M. A.; GRESSLER, L. T.; PEREIRA, P. L.; MONTEIRO, S. G. Aceturato de diminazeno no tratamento de equinos infectados naturalmente por Trypanossoma evansi no município de Cruz Alta – RS. Vet. e Zootec., v.16, n.1, p.74-79, 2009.   

Hugo Borges

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