06 dez 2010

Micose das Bolsas Guturais

A bolsa gutural é uma estrutura existente unicamente nos cavalos. Sua capacidade pode variar de 300 a 500 ml. Situa-se entre a base do crânio e ao atlas dorsalmente, a faringe e o esôfago ventralmente e é coberta pela glândula parótida. Os nervos vago, glossofaríngeo, hipoglosso e facial estão relacionados próximo a bolsa, juntamente com a artéria carótida.

Varias funções são atribuídas à bolsa gutural, mas nenhuma delas é cientificamente convincente. A teoria mais aceita atualmente é que a bolsa atua como um mecanismo de resfriamento do sangue cerebral em momentos de grande esforço físico, haja vista que a carótida é a artéria que irriga o cérebro, e esta em intima relação com a bolsa gutural. Outra teoria bastante aceita é de que a bolsa serve de amortecedor (alivia a pressão) do impacto produzido pela respiração ofegante durante o exercício. A micose da bolsa gutural representa uma das infecções micóticas mais comuns do cavalo, ocorrendo principalmente em regiões onde são fornecidas forragens de feno e silagem. O fungo envolvido geralmente é o Arpergillus spp, e o isolado mais comumente é o Aspergillus nidulans. Quando invade a parede da carótida, que está em íntimo contato com a parede dorso medial da bolsa gutural, dá origem a epistaxes (hemorragias nasais) extremamente graves e potencialmente fatais. Existe uma série de outras estruturas importantes que também podem se tornar afetadas, como os nervos e as veias que avançam por meio da bolsa gutural. Epistaxe uni ou bilateral não relacionada ao exercício, secreção nasal mucóide com paralisia da faringe são os três sinais físicos mais comuns associados ao distúrbio. Vale lembrar que a epistaxe de cor escura é proveniente de sangue venoso, já a epistaxe de cor vermelho brilhante é proveniente de vasos mais calibrosos, com a artéria carótida. Nos casos em que os tecidos nervosos são invadidos pelos micélios fungicos em seu processo de expansão, os cavalos podem ficar prejudicados por deficiências neurológicas. A paralisia da faringe que, com mais frequência é unilateral, é a neuropatia mais comum.

Foto da esquerda – Epistaxe de origem venosa; Foto da Direita – Epistaxe de origem arterial

O exame endoscópico é comumente o mais utilizado e poderá evidenciar diretamente a presença de conteúdo inflamatório ou hemorrágico no interior da bolsa.

Hemorragia bilateral da Bolsa Gutural

Alguns autores citam que o exame da faringe, com o uso do endoscópio, frequentemente revelará a evidência de deficiências neurológicas, que envolvem o deslocamento dorsal do palato mole e a hemiplegia da laringe. A endoscopia do caso em fase inicial demonstra que a lesão visível causada pela micose da bolsa gutural está limitada à superfície mucosa. A coloração e a extensão da lesão podem variar, desde pequenas áreas brancas amareladas, até lesões maiores, brancas ou acinzentadas. Embora em sua maioria essas lesões estejam limitadas ao teto da bolsa gutural, algumas podem estender-se mais além. Podemos lançar mão de estudos radiográficos para identificação da extensão da lesão, por outro lado, a angiografia pode ter utilidade na definição da localização e extensão do envolvimento da parede arterial. Outro meio de diagnóstico importante é o uso do aparelho de ultrassonografia com doppler colorido.

Imagem Radiográfica látero-lateral da Bolsa Gutural

O tronco simpático e o gânglio simpático cranial também podem estar envolvidos no processo fungico, e a lesão a essa estrutura é amplamente responsável pela ocorrência da síndrome de Horner (miose, pitose, protusão de terceira pálpebra, enoftalmia).

Ruptura da Artéria Carótida Interna

Atenção: a hemorragia da artéria carótida é frequentemente fatal se não controlada dentro de alguns minutos. Essa condição é uma emergência médica e o tratamento é a ligadura da carótida ipsilateral através da abordagem cirúrgica pelo triângulo de Viborg (Borda caudal da mandíbula, tendão do músculo esteno cefálico e veia linguo-facial). Diferente de nós, seres humanos, cavalos não sofrem de isquemia cerebral pela ligadura desta artéria.

BIBLIOGRAFIA

Knottenbelt DC, Pascoe RR; Afecções E Distúrbios Do Cavalo. 1 ed, São Paulo, Ed Manole, 1998, pg 141-146. Turner SR, Mcilwraith WC; Técnicas Cirúrgicas em Animais de Grande Porte, 1 ed, São Paulo, Ed Roca, 1998, pg 206-210. Victor CS; Clinical Examination of the Horse. 1 Edition, Ed Sounders Company, 1997, pg 48-51. Dyce S; Tratado de Anatomia Veterinária. 1 ed, pg 393. Dargatz JLT, Brown CM; Equine Endoscopy, 2 Edition, Ed Mosby, 1997, pg 61-73 

Arnaldo Garcez de Barros Jr; Breno Carvalho de Paula; Luiz Alexandre Lejambre

Acadêmicos de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná

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