Artigos - Coccidiose suína: desafio antigo X novo perfil

24 jan 2017

Coccidiose suína: desafio antigo X novo perfil

A coccidiose, apesar de ser uma doença já de grande conhecimento na fase de lactação, muitas vezes está presente mesmo sem trazer sinais clínicos muito evidentes, apresentando-se de maneira subclínica. Por este motivo em muitos casos acaba sendo negligenciada quando comparada a outros desafios entéricos, os quais geram um senso de urgência maior, em função de grande parte deles levar a quadros de desidratação e em alguns casos a óbito. Por sua vez, a coccidiose, quando não associada a outros agentes, causa, somente, redução de desempenho, sendo considerada um dos desafios de maior impacto econômico na produção de suínos.

A principal forma de infecção dos leitões é por via oral, através da ingestão de oocistos presentes no ambiente. Por serem muito resistentes, podem permanecer durante meses ou até anos viáveis em matéria orgânica, resto de alimentos, entre outros, fazendo com que leitegadas possam ser infectadas por oocistos remanescentes de leitegadas anteriores. A característica do agente, aliada à constante redução de mão de obra em granjas em função do alto custo, fez com que a coccidiose voltasse a ganhar importância, entretanto em um momento mais tardio. Isto porque, atualmente, quase todas as granjas utilizam o toltrazuril como forma de prevenção em uma única dose entre o 3º e o 4º dia de vida, o que permite que os leitões fiquem imunes à coccidiose durante a ação do produto, que é em média de 6 a 8 dias.

Este alto desafio tardio observado em granjas, explica em parte que, além de um controle pelo fornecimento preventivo do toltrazuril, há concomitantemente a necessidade de controle por meio de limpeza e desinfeção, fazendo com que os animais não se reinfectem após o período de duração da proteção fornecida pelo produto.

Leitões acompanhados em estudo (Foto: Andrea Panzardi)

Coletas realizadas em 12 granjas nos últimos 3 anos, totalizando 139 amostras de fezes analisadas, têm demonstrado um perfil similar, com a presença do Cystoisospora suis em maior proporção em fezes de leitões com idade média de 12 a 21 dias (Tabela 1), demonstrando que leitões mesmo tratados preventivamente com toltrazuril, após o efeito protetivo do medicamento, acabam se reinfectando e desenvolvendo a coccidiose em função da alta pressão de infecção do ambiente.

Na tabela abaixo (Tabela 1), pode ser observado nos anos de 2015 e 2016 a ausência da coccidiose por volta da primeira semana de vida do leitão, o que demonstra que os leitões receberam o tratamento e que permaneceram protegidos até por volta do 7º dia. Entretanto, observa-se um aumento expressivo do desafio de coccidiose nas 2ª e 3ª semanas de lactação. Isto corrobora com o descrito acima, demonstrando que os leitões estão se reinfectando em função de uma alta pressão de infecção.

Nestes casos uma segunda dose entre o 7º e 8º dia de toltrazuril é indicada permitindo que os leitões fiquem protegidos por mais 6 a 8 dias. Isto se justifica, pois o investimento feito pelo fornecimento do produto quando comparado ao prejuízo econômico que a doença traz é por volta de 27% por leitão acometido. Por outro lado, em granjas em com alto desafio, ainda na 3ª semana, é importante que sejam revistos manejos relacionados à limpeza e à desinfecção para que sejam aprimorados, e então, reduzam a ocorrência deste quadro.

Tabela 1. Dados de análises laboratoriais realizadas nos últimos 3 anos para coccidiose

Ano

Número de granjas*

Faixa etária (dias)

n total

Cystoisospora suis

Amostras positivas

%

Amostras negativas

%

2014

1

1 a 7

---

---

---

---

---

8 a 15

---

---

---

---

---

16 a 23

5

4

80%

1

20%

2015

5

1 a 7

28

0

0%

26

100%

8 a 15

39

12

30,8%

27

69,2%

16 a 23

31

14

45,2%

17

54,8%

2016

6

1 a 7

4

0

0%

4

100%

8 a 15

14

13

92,9%

1

7,1%

16 a 23

15

7

46,7%

8

53,3%

* Granjas situadas nos estados de SP, MG, MS, MT e GO.

 

Como solução frente ao desafio por Cystoisospora suis a Ourofino possui o Isocox®, um produto à base de toltrazuril a 5% que deve ser administrado entre o 3º ou 4º dia de vida do leitão

Referências

MUNDT, H. C.; MUNDT-WÜSTENBERG, S.; DAUGSCHIES, A.; JOACHIM, A. Efficacy of various anticoccidials against experimental porcine neonatal isosporosis Parasitology Research, v.100, p. 401–411, 2007.

PANZARDI, A.; GAGGINI, T.S.; NUNES, R.F.; ALMEIDA, F.R.C.L.; SILVA, A.; REZENDE, M.L.R. Avaliação do desempenho de leitões tratados preventivamente com toltrazuril no terceiro dia de vida. Anais Abraves, Campinas, XVII Congresso da ABRAVES, 2015.

RISTOW, L.E.; PEREZ, A.A. Jr; SILVA, L.G.C. 2001. Estudo comparativo do uso profilático de toltrazuril, diclazuril e sulfaquinoxalina no controle da excreção de oocistos de Isospora suis. In Anais... X Congresso Brasileiro de Veterinários Especialistas em Suínos, Porto Alegre - RS.

SOBESTIANSKY, J.; BARCELLOS, D.E.S.N.  Doenças dos Suínos, 2 ed., Goiânia: Cânone Editorial, 2012.

SOTIRAKI, S.; ROEPSTORFF, A.; NIELSEN, J. P.; MADDOX-HYTTEL, C.; ENØE, C.; BOES, J.; MURRELL, K. D.; THAMSBORG, S. M. Population dynamics and intra-litter transmission patterns of Isospora suis in suckling piglets under on-farm conditions. Parasitology, v. 135, p. 395–405. 2008.

WORLICZEK, H. L.; GERNER, W.; JOACHIM, A.; MUNDT, H. C.; SAALMÜLLER, A. Porcine Coccidiosis – Investigations
on the Cellular Immune Response against Isospora suis.  Parasitology Research, v. 105, p.  S151–S155, 2009.

WORLICZEK, H. L.; MUNDT, H. C.; RUTTKOWSKI, B.; JOACHIM, A. Age, not Infection dose, determines the outcome of Isospora suis infections in suckling piglets. Parasitology Research, v. 105, p. S157–S162, 2009.

Sobre o autor

Andrea Panzardi é doutora em Fisiopatologia da Reprodução de Suínos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.  

 

Foto de capa: Aumsama

Andrea Panzardi, especialista técnica em suínos na Ourofino Saúde Animal

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